QUEM É O AUTOR DO LIVRO DE GÊNESIS?

Autor: João Silva
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A autoria do livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, tem sido objeto de intenso debate e estudo ao longo dos séculos. Este artigo pretende explorar as diferentes teorias e evidências relacionadas à autoria deste texto sagrado, oferecendo uma visão abrangente que combina tradição, crítica textual e estudos históricos.

A Tradição Mosaica

Atribuição Tradicional a Moisés

A Tradição Judaico-Cristã

Na tradição judaico-cristã, o livro de Gênesis é tradicionalmente atribuído a Moisés. Este ponto de vista se baseia na crença de que Moisés, líder dos israelitas e figura central no Antigo Testamento, teria escrito os primeiros cinco livros da Bíblia, conhecidos como o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Segundo esta tradição, Moisés teria recebido inspiração divina durante o êxodo do Egito, aproximadamente no século XIII a.C.

Evidências Bíblicas

Alguns versículos bíblicos sustentam essa tradição. Por exemplo, em várias passagens do Antigo e do Novo Testamento, há referências que indicam que Moisés escreveu a lei e os mandamentos de Deus (Êxodo 17:14, Deuteronômio 31:24-26). No entanto, a menção específica ao livro de Gênesis como obra de Moisés não é explicitamente feita.

A Crítica Textual e Documental

Teoria Documentária

A teoria documentária, também conhecida como Hipótese Documentária, sugere que o Pentateuco, incluindo Gênesis, é uma compilação de várias fontes distintas. Essa teoria foi desenvolvida no século XIX por estudiosos como Julius Wellhausen. Segundo esta hipótese, existem quatro principais fontes identificáveis no texto bíblico: J (Javista), E (Elohista), P (Sacerdotal) e D (Deuteronomista). Cada uma dessas fontes teria sido escrita em diferentes períodos históricos e refletiria distintas tradições e pontos de vista teológicos.

Fonte Javista (J)

A fonte Javista é assim chamada porque utiliza o nome Yahweh (Javé) para Deus. Acredita-se que esta fonte tenha sido escrita no Reino do Sul (Judá) por volta do século X a.C. e é caracterizada por uma narrativa vívida e antropomórfica de Deus.

Fonte Elohista (E)

A fonte Elohista usa o termo Elohim para se referir a Deus e é geralmente atribuída ao Reino do Norte (Israel), datando do século IX a.C. Esta fonte tende a enfatizar os aspectos proféticos e morais da relação entre Deus e o povo.

Fonte Sacerdotal (P)

A fonte Sacerdotal é associada aos sacerdotes de Jerusalém e data do período do exílio babilônico (século VI a V a.C.). Ela se distingue pelo seu estilo formal, listas genealógicas e preocupações litúrgicas e rituais.

Fonte Deuteronomista (D)

A fonte Deuteronomista é principalmente encontrada no livro de Deuteronômio e está ligada ao período das reformas religiosas do Rei Josias no século VII a.C. Embora não diretamente relacionada ao Gênesis, a presença de tradições deuteronomistas na composição do Pentateuco como um todo é relevante.

Análise Crítica

A teoria documentária sugere que Gênesis, como parte do Pentateuco, é o produto de um processo editorial complexo, onde diferentes tradições foram combinadas por redatores ao longo dos séculos. Esta visão desafia a atribuição singular a Moisés, propondo que ele pode ter sido uma figura inspiradora, mas não o autor literal de todos os textos.

Evidências Arqueológicas e Históricas

Textos e Inscrições Antigas

As descobertas arqueológicas têm oferecido insights valiosos sobre os contextos históricos e culturais em que os textos bíblicos foram escritos. Inscrições antigas, como a Pedra Moabita e documentos cuneiformes de Mari e Nuzi, fornecem paralelos culturais e legais que ajudam a situar as narrativas do Gênesis em um contexto histórico mais amplo.

Narrativas Paralelas

Histórias semelhantes às encontradas no Gênesis, como o épico de Gilgamesh e outras mitologias do Antigo Oriente Próximo, sugerem que algumas narrativas bíblicas têm raízes em tradições mais antigas. Isso não diminui o valor religioso do Gênesis, mas indica um processo de transmissão e adaptação de histórias ao longo do tempo.

Interpretações Modernas e Implicações Teológicas

Visões Acadêmicas Contemporâneas

Teologia Bíblica

Os estudiosos contemporâneos da teologia bíblica frequentemente adotam abordagens que reconhecem a complexidade da composição textual do Gênesis. Eles exploram como diferentes tradições teológicas foram integradas para criar um texto que atende às necessidades espirituais e culturais das comunidades que o transmitiram.

Estudos Literários

A análise literária do Gênesis também revela uma estrutura narrativa sofisticada, com temas e motivos recorrentes que conectam as diferentes histórias. Essa abordagem destaca a unidade literária do texto, mesmo que ele tenha múltiplas fontes.

Implicações para a Fé e a Prática Religiosa

Perspectiva Religiosa

Para muitas tradições religiosas, a questão da autoria do Gênesis é menos importante do que a mensagem teológica que o texto transmite. O foco está na revelação divina e na importância das histórias como fundamento da fé e da identidade religiosa.

Diálogo Interconfessional

O estudo da autoria do Gênesis também promove o diálogo entre diferentes tradições religiosas e entre fé e ciência. Esse diálogo pode enriquecer a compreensão mútua e a apreciação das diversas formas como as Escrituras são valorizadas e interpretadas.

A questão de quem escreveu o livro de Gênesis é complexa e multifacetada. Embora a tradição atribua a autoria a Moisés, a crítica textual e as evidências históricas sugerem um processo de composição mais dinâmico e colaborativo. Independentemente da autoria, o Gênesis continua sendo uma obra central para a fé judaico-cristã, oferecendo narrativas profundas sobre a criação, a humanidade e a relação com o divino.

Perguntas Frequentes

  1. Por que o livro de Gênesis é tradicionalmente atribuído a Moisés?

    • A tradição judaico-cristã acredita que Moisés escreveu os primeiros cinco livros da Bíblia, incluindo Gênesis, devido à sua liderança e relação direta com Deus durante o êxodo do Egito.
  2. O que é a teoria documentária?

    • A teoria documentária sugere que o Pentateuco é uma compilação de várias fontes distintas (Javista, Elohista, Sacerdotal e Deuteronomista), escritas em diferentes períodos históricos e combinadas por redatores.
  3. Quais são as principais fontes identificadas na teoria documentária?

    • As principais fontes são J (Javista), E (Elohista), P (Sacerdotal) e D (Deuteronomista), cada uma refletindo diferentes tradições e contextos históricos.
  4. Como as evidências arqueológicas contribuem para o estudo do Gênesis?

    • As descobertas arqueológicas, como inscrições antigas e narrativas paralelas de outras culturas, ajudam a situar as histórias do Gênesis em um contexto histórico mais amplo, revelando influências culturais e legais.
  5. Qual é a importância do Gênesis para a fé judaico-cristã?

    • Independentemente da autoria, o Gênesis é fundamental para a fé judaico-cristã, oferecendo narrativas sobre a criação, a humanidade e a relação com Deus, servindo como base teológica e espiritual para essas tradições religiosas.

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